sábado, 16 de junho de 2007

O desejo do pastor - Max Bolliger

Era uma vez um pastor que, para além de algumas ovelhas, nada mais possuía, a não ser uma flauta que ele mesmo fizera com um ramo de sabugueiro.

Não passava um dia que ele não a tocasse, às vezes alto, outras vezes baixinho, às vezes alegre, outras, triste, conforme se sentia no momento.

Ao tocar, sentia o desejo da perfeita beleza. E a esperança de vir a encontrá-la inspirava-lhe novas melodias.

Certa vez, quando voltara a tocar na sua flauta, descobriu um pássaro. Estava pousado no sabugueiro, a escutá-lo.

As suas penas brilhavam com todas as cores do arco-íris.

“Oh!”, pensou o pastor fascinado. “Aqui está finalmente a beleza que eu procuro.”

Aproximou-se devagarinho do sabugueiro para apanhar o pássaro. Mas quando ia agarrá-lo com as mãos, o pássaro levantou voo e foi sentar-se no ramo de um pinheiro.

O desejo de o apanhar era tão grande, que o pastor seguiu-o.

Mas, quando chegou junto do pinheiro, o pássaro ergueu-se nos ares e partiu.

No seu lugar, o pastor encontrou um melro ameaçado por um gato.

Mal acabara de afugentar o gato, descobriu o pássaro parado na margem de um regato.

Mas quando o pastor chegou junto do regato, o pássaro levantou voo.

No seu lugar, o pastor encontrou um peixe preso numa rede.

Mal o pastor acabara de libertar o peixe, descobriu o pássaro no cume de um monte.

Ao chegar ao cume, o pássaro elevou-se nos ares e voou.

No lugar do pássaro, o pastor encontrou uma flor murcha pelo calor.

Mal o pastor acabara de regar a flor, descobriu o pássaro à beira-mar.

Mas, quando o pastor chegou à beira-mar, o pássaro elevou-se nos ares e voou por sobre a água, em direcção ao pôr-do-sol.

“Ah”, pensou o pastor, “a beleza estava a fazer troça de mim.”

Desapontado, fez-se ao caminho de regresso a casa e às suas ovelhas.

Mas, quando chegou ao cimo do monte, diante dos seus olhos abria-se uma flor maravilhosa.

No regato, esperava-o um peixe. E, no pinheiro, um melro saudou-o com o seu canto.

Então, o pastor pensou que, afinal, fazia sentido ansiar pela beleza, mesmo que não fosse possível agarrá-la com as mãos, e continuar, até ao fim da sua vida, tocando as suas melodias.






Max Bolliger/Jindra Čapek
Der Wunsch des Hirten
Zürich, bohem press, 2001
Texto traduzido e adptado

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